terça-feira, 3 de março de 2015

charge-alckmin-aguaCapitalismo gera crise do abastecimento de água em São Paulo

Para os acionistas, o lucro; para os trabalhadores, aumento da conta de água e luz

Não existe crise da água ou hídrica. O que existe é uma crise do abastecimento porque o PSDB há 20 anos administra o Estado para o capitalismo, os empresários, a especulação financeira. Resultado: terraplanagem predatória para loteamentos, o assoreamento e desflorestamento dos leitos dos rios com a derrubada de mananciais, a poluição do Tietê e outros reservas, como: o Guarapiranga. Outro elemento grave na crise do abastecimento foi a privatização da Sabesp.

Derrubada dos mananciais e falta de planejamento

Nunca faltou água em São Paulo. Não é à toa que a capital paulista sempre fora conhecida como a terra da garoa. O problema é que o governo tucano permitiu a derrubada de 79% dos mananciais da região metropolitana do estado ao mesmo tempo em que não ampliou os sistemas de captação e armazenamento de água.

Um estudo divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica constata que “a cobertura florestal nativa na bacia hidrográfica e nos mananciais que compõem o Sistema Cantareira, centro da crise no abastecimento de água que assola São Paulo, está pior do que se imaginava. Hoje, restam apenas 488 km2 (21,5%) de vegetação nativa na bacia hidrográfica e nos 2.270 km2 do conjunto de seis represas que formam o Sistema Cantareira.”

“As florestas naturais protegem as nascentes e todo o fluxo hídrico. Com esses índices de vegetação, não é de se estranhar que o Sistema Cantareira opere, atualmente, com o menor nível histórico de seus reservatórios, já que para ter água é preciso ter também florestas”, define o estudo.

Com isso, o governo agiu para provocar a crise no abastecimento. Estiagem entre um período ou outro de chuvas fortes são comuns em várias partes do mundo, mas não justificam a falta de abastecimento. A falta de planejamento causou o problema. Tanto é que entre 2009 e 2011 o excesso de chuva causou enchentes na região do Cantareira e muita água foi inutilizada.

Os reservatórios que abastecem o entorno da capital paulista são os mesmo de há 30 anos enquanto a população da região metropolitana aumentou de 12 para 22 milhões de pessoas. Estudos da USP já apontavam desde a década de 1990 que a falta de preservação dos mananciais, a poluição dos rios etc. poderiam causar falta de água. Pelo menos há 10 anos, estudos da própria Sabesp (companhia estadual de água e esgoto) apontavam o problema iminente no abastecimento. O tucanato paulista pagou pra ver e ainda escondendo essas informações para não prejudicar os acionistas da empresa.

Privatização da Sabesp

Com a abertura do capital da Sabesp na Bolsa de Valores de Nova York, o tucanato paulista entregou o abastecimento de água e coleta de esgoto para o mercado gerir. A única meta do mercado é lucro. Portanto, investir em manutenção e expansão do sistema de armazenamento de água, de coleta e tratamento do esgoto passou a ser tratado como custo. Campanhas permanentes de economia de água então nem pensar. Para o acionista, quanto maior o consumo e/ou desperdício mais lucro. Não importa se pode vir a faltar.

Isso explica o inacreditável percentual de desperdício pela Sabesp de 36% da água tratada por causa de vazamentos e falhas na distribuição. Os dados são da Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp). Esse percentual de desperdício é suficiente para abastecer uma cidade como Campinas. Água não é mercadoria e não deve ser gerida pelo mercado. O agravante é que a companhia repassou R$ 4 bilhões de lucros aos acionistas enquanto o governador Geraldo Alckmin, protegido pela imprensa tucana, conseguiu R$ 5 bilhões do governo federal para obras emergenciais. Obras essas que levariam água de outros reservatórios (que também estão secos) para o sistema Cantareira.

Os lucros dos acionistas permanecem intocados enquanto o povo pagará a conta de obras inúteis que não irão nem ao menos “tapar o sol com a peneira”.

A criminalização do consumidor/trabalhador

Na maior cara de pau do mundo, Alckmin, seus assessores e a imprensa burguesa que o sustenta politicamente partiram para o ataque ao trabalhador, ao consumidor para criminalizá-lo pela falta de água. Lavar calçada ou o carro passou a ser visto quase como um ato lesa-pátria enquanto o consumo doméstico (que sim, pode economizar, mas não é o responsável pela crise do abastecimento) é responsável por apenas 8% da distribuição de água. 70% são consumidos pelo agronegócio e 22% pela indústria.

Além de ser culpabilizado, o consumidor teve aumento na conta de água (de um produto em escassez) e ainda pagará uma multa se o consumo aumentar com relação aos meses anteriores. Alckmin e os acionistas da Sabesp querem tirar das costas do consumidor o prejuízo com a falta de água para distribuição. Ou seja, o acionista sempre lucra, de um jeito ou de outro, e o consumidor sempre perde.

A discriminação social no fornecimento de água

Uma pesquisadora americana ficou estarrecida ao visitar São Paulo e saber que a cidade é cortada por um rio, mas sofre de falta de água. Isso porque Alckmin gastou R$ 3 bilhões para despoluir o Rio Tiete, mas o dinheiro escorregou pelo leito do rio só que a poluição ficou.

O que também revolta é saber: pra quem falta água? Para o morador da periferia que tem um banheiro, dois ou três quartos e não pode pagar os R$ 20 que estão sendo cobrados pelo galão de água de 20 litros em São Paulo? Ou para os moradores de regiões caras com apartamentos de três ou quatro suítes com banheira, piscina na sacada ou no jardim, jacuzzi e tudo o mais?

Os bairros e condomínios chiques de ricos estão entupindo a prefeitura de São Paulo de pedidos para escavação de poços artesianos. Ou seja, os ricos vão se apoderar dos lençóis freáticos. E o povo trabalhador?

Eleição à custa do agravamento da crise

Desde o ano passado, dezenas de cidades paulistas sofrem racionamento de água. Itú, por exemplo, sofre falta de água desde abril de 2014. Contudo, Alckmin mentiu para a população para vencer a eleição garantindo como certo o abastecimento ad infinitum. Na verdade, a crise já estava posta. E só tende a ser agravar. A oligarquia tucana que comanda o estado há duas décadas se faz de morta, joga a culpa em São Pedro quando, na verdade, foi inerte e responsável pela situação atual.

Reestatização da Sabesp e recuperação dos mananciais!

Como a sociedade poderá combater a crise do abastecimento? Só existe uma maneira: com a reestatização da Sabesp e a recuperação dos mananciais para a proteção das reservas de água. Esta crise do abastecimento mostra que o Estado deve gerir o sistema de captação, armazenamento, distribuição e reutilização da água, que não deve gerar lucro, deve manter a vida! Nas mãos do mercado, a água é uma mercadoria como outra qualquer e serve apenas ao pagamento de dividendos aos acionistas. Por isso, qualquer discussão sobre a crise no abastecimento no estado de São Paulo só pode evoluir com a defesa da reestatização da Sabesp.

Outro ponto essencial é a recuperação e proteção dos mananciais. É preciso proteger o que sobrou da Mata Atlântica e impedir novos desmatamentos. E isso só irá ocorrer com uma mudança na ótica de todo o Estado com o comprometimento de todos os estados do país porque de pouco adiantará proteger os mananciais paulistas, por exemplo, enquanto as nascentes de muitas bacias hidrográficas importantes, como o Rio São Francisco, nascem em Minas Gerais. Todos os trajetos dos rios têm que ser protegidos.

Além disso, é preciso promover a recuperação das florestas. E aí teremos que comprar brigas com interesses dos capitalistas do agronegócio, do latifúndio. Não é uma batalha fácil, mas é o caminho para a recuperação e garantia a médio e longo prazo da distribuição de água. E aí está o desafio da classe trabalhadora. Os governos não vão abrir mão de suas linhas políticas e econômicas e de esgotamento dos recursos naturais. Assim, cabe ao povo trabalhador tomar as ruas e exigir dos governos essas medidas para garantir o fornecimento de água e também o de energia. Caso contrário, teremos que arcar com altos custos de um serviço que poderá ser cada vez mais racionado.

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